SOBRE A OBRA
Assim, nasceram dois rascunhos em paralelo: um deles não irei comentar a respeito, pois talvez ainda venha a ser concluído, mas o outro era sobre uma crescente variedade de idealismos fanáticos que estavam começando a aparecer em vários círculos sociais mundo afora. Isso serviu de inspiração para o fio narrativo da história que eu queria contar.
Em pouco menos de dois meses eu tinha o enredo todo na cabeça. Envolveria viagem no tempo, realidades paralelas, uma coisa maluca. Porém, no decorrer da escrita – lenta e espaçada, pois voltei a trabalhar em Arlock e, enfim, a publicá-lo –, reparei como ela começou a ficar parecida com algumas das obras do mainstream dos anos 2018 e 2019, culminando no estrondoso sucesso de Vingadores: Ultimato. Foi aí que eu joguei metade da história no lixo.
Com isso, cheguei a mudar o terceiro ato da obra umas seis vezes. Coincidiu de, nessa mesma época, aumentar os casos de idealismo extremo, e então, algo que era para ser apenas um fio condutor, transformou-se no cerne da história que eu tinha para contar. Soma-se aqui a pandemia e todos os aspectos sociais e psicológicos que o período trouxe e temos um livro que talvez seja mais obscuro e introspectivo que Arlock, mas que espero que ainda assim tenha sido do seu agrado, pois o carinho e a dedicação à história aplicados no primeiro livro permanecem aqui, nessa continuação.
O principal ponto que desejo expor nessa nota do autor é: fanatismo é algo presente desde o início da história conhecida da humanidade, fosse por religião, ideais, bandeiras, até times de futebol. E o resultado dessa fixação por uma ideia nunca se mostrou ser algo saudável.
Embora em A QUEDA DOS DEUSES a principal imagem do fanatismo fique por conta do Sinoa – um grupo de radicais que deseja extirpar as religiões de Ellora, por crerem que os seres sencientes do planeta é que são, de fato, os donos de suas vidas e destinos –, não é necessário muito esforço para virar a chave e imaginar que poderia sim ser a ação de um grupo religioso ou de ideais raciais, ou ainda de alinhamentos políticos, com uma crença forte em suas convicções e querendo impô-las a outras pessoas, independentemente se elas desejam ou não seguir a mesma linha de pensamento.
O interessante é notar que pequenas fagulhas de fanatismo estão espalhadas na nossa sociedade. Uma ideia dessas sozinha pode não ser tão preocupante, mas a união de pensamentos parecidos tem a força de ser o início de um incêndio difícil de apagar.
Então, se você, pessoa leitora, me considera digno de fazer um pedido, seria: questione tudo o que é subjetivo, pois não existe verdade absoluta em criações humanas. Não acredite em qualquer coisa que te falam sem uma fonte, uma prova, uma visão crítica do que a contraparte pode te mostrar. Mas, acima de tudo, lembre-se que nenhuma lei, ideal, crença ou liberdade de expressão deveria passar por cima de alguém que é seu semelhante.
Por mais difícil que seja em vários momentos, é bom ter em mente as palavras de um pensador antigo (que você pode ou não acreditar nele – eu, particularmente, acredito): ame ao teu próximo como a ti mesmo. Seguir ao pé da letra é complicado? Com certeza. Talvez nenhum ser humano foi, é ou será capaz de agir dessa forma. Porém, a frase serve para pensar em suas atitudes e convicções: o que eu faço, penso e falo machuca ou tira o direito de outra pessoa? Se sim, talvez eu deva repensar e avaliá-las melhor. Afinal, ao aceitar seu destino, Sarah Arlock não se sacrificou apenas pelos seus amigos e familiares, mas também por aqueles que a feriram em vários momentos da vida – fisicamente ou não.
Nas palavras de Tolkien, personificadas através do mago Gandalf, “você pode lhes dar vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte. Pois mesmo os muitos sábios não conseguem ver os dois lados”.
Um abraço,
Thiago Pe.
Sempre pensei em Arlock - um conto de Ellora como uma história única, com começo, meio e fim. Porém, seria impossível não imaginar o que poderia acontecer a seguir, outras histórias que teriam palco para serem contadas nos demais locais daquele mundo que criei com tanto carinho.
Em um período de bloqueio criativo em 2017, pouco antes de finalizar a primeira versão de Arlock, comecei a elencar algumas ideias de continuação, mas que não afetassem o fechamento do livro que eu estava para concluir.